segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

G._10.º_n.º 3






O Meu Retrato


O capuz é um elemento de mim, pois camisola sem capuz é como casa sem refúgio.
Por debaixo da penugem castanha do cabelo escuro, encontra-se um rosto arredondado. A pele é da cor daquelas nozes pálidas que abrimos no Inverno. A testa está coberta de fragmentos de acne, do nervosismo que tenho do jogo quando perco, do stress nas semanas de teste, talvez apenas da mania de coçar as borbulhas até o sangue vir ao de cima. Por baixo das sobrancelhas reinam os olhos esverdeados, o único orgulho do meu rosto. Também os lábios grossos e secos fazem parte da face, com um queixo banhado em arranhões e coçadelas.
Sempre que possível cubro o pescoço com golas altas ou algo do género. Uso sempre camisolas e casacos nunca muito fora do comum, mas confortáveis. No tronco nota-se o não esforço para manter a linha, tendo uma figura pouco esbelta mas nada de mais. Os braços são do tamanho adequado e para combinar com as mãos que estão sempre quentes, entro em sintoma de adoração por mangas compridas. Maiores do que o próprio braço. As pernas não são muito robustas, sempre cobertas por calças de ganga ou outros tecidos. Elas estendem-se aos pés com dedos minúsculos como nenhum adolescente de 15 anos tem por aqui. Para os pés servem uns ténis ou até mesmo apenas um par de meias ou chinelos se me encontrar em casa. Conforto acima de tudo!
Psicologicamente, a minha personalidade vai com o vento. Por um lado, uma pessoa reservada. Uma espécie de bicho-do-mato que foge do próprio mundo e que, por vezes, tenta até fugir do próprio corpo. Talvez um pequeno monstrinho debaixo da cama que não sai com medo de magoar alguém (ou a si próprio…). Mas também uma espécie de chave que em vez de ser colocada na fechadura, continua a bater à porta à espera que alguém abra. Mas esta situação é paralela. Quando com pessoas mais próximas, o botão floresce, faço tudo espontaneamente e sem medo. É como voar de uma falésia com asas de papel, já que o mar é feito de dentes-de-leão que realizam desejos. Pouco presa aos olhos da mente que a sociedade tem de mim, segurando na mão cartas de segredos com que jogo todos os dias, e curiosamente, ainda ninguém conhece o seu significado. Observo acima de olhar, ouço em vez de falar, quando sonho escrevo em vez de desenhar ou vice-versa… E recomeça tudo outra vez, até o retrato ser perfeito, como numa obra de arte.



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