sábado, 9 de fevereiro de 2013

G._10.º_n.º 16




A Garota que eu amo

A garota que eu amo
É como um sonho em dia de verão,
Capaz de fazer resplandecer o Sol em céu de tempestade com um simples olhar seu.
A garota que eu amo
Fala tudo ao contrário, vive rindo à toa
E gosta de ouvir mil vezes a mesma coisa
A garota que eu amo
É sincera, humilde e companheira
E às vezes se chateia se eu não fico com ela até não mais poder
A garota que eu amo
Tem um jeito todo especial de encantar,
Maravilhar e de ser
A garota que eu amo não me ama
Mas eu à amarei sempre
Eternamente...

Augusto Branco







 Prefiro rosas, meu amor, à pátria,

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.

1-6-1916
Ricardo Reis. Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. 




















Os poemas são pássaros que chegam

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana


O suporte da música

o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
olhares encontrando-se, ou das suas

vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
crescendo como trepadeiras entre eles.
o suporte da música pode ser uma apetência

dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se
ramifica entre os timbres, os perfumes,
mas é também um ritmo interior, uma parcela
do cosmos, e eles sabem-no, perpassando

por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.

Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos





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