Porque
Porque os outros se mascaram mas tu
não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos
caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se
vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu
não.
Porque os outros vão à sombra dos
abrigos
E tu vais de mãos dadas com os
perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia
de Mello Breyner Andresen, in
O Nome das Coisas
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