Ruas de Lisboa
Todas as quartas-feiras, depois das duas da tarde, já
é minha rotina retirar-me para as infindas ruas de Lisboa. Apanho o metro, como
me é habitual, e saio na estação Baixa-Chiado. Assim que ponho os pés fora das
escadarias imundas da estação, deparo-me com a realidade da vida lisboeta.
Confesso que é, de facto, algo que me encanta. Não consigo deixar de apreciar
os artistas de rua, muitos deles filhos da calçada portuguesa, e tantos outros
apadrinhados por ela, roubados ao seu ninho por tempos infortunados. Outros
fazem-no por paixão, o que vai sendo cada vez mais raro, visto que o cinto se
aperta para todos, e, como bons portugueses que somos, a cultura passa a ser
posta de parte, afundada no esquecimento porque, no final de contas, música e
quadros não pagam impostos, e a cultura é algo tão vão... Mas Lisboa não é só
artistas de coração. Cada esquina que viramos evidencia a degradação do povo; aos
poucos e poucos, a calçada tipicamente tuga é revestida a cartão e torna-se o
lar de tantos lusos que não sobreviveram aos tempos de austeridade, ou que
simplesmente se deixaram embalar pela melodia dissimulada do caminho que, para
tantos, é o mais fácil. Pessoas que, outrora, foram crianças e tiveram (ou não)
direito aos seus anos de inocência, e que, por azar ou fado, se deixaram
encantar pelas vielas mais sombrias de Lisboa.
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