sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

E._10.º_n.º 22


Ruas de Lisboa

Todas as quartas-feiras, depois das duas da tarde, já é minha rotina retirar-me para as infindas ruas de Lisboa. Apanho o metro, como me é habitual, e saio na estação Baixa-Chiado. Assim que ponho os pés fora das escadarias imundas da estação, deparo-me com a realidade da vida lisboeta. Confesso que é, de facto, algo que me encanta. Não consigo deixar de apreciar os artistas de rua, muitos deles filhos da calçada portuguesa, e tantos outros apadrinhados por ela, roubados ao seu ninho por tempos infortunados. Outros fazem-no por paixão, o que vai sendo cada vez mais raro, visto que o cinto se aperta para todos, e, como bons portugueses que somos, a cultura passa a ser posta de parte, afundada no esquecimento porque, no final de contas, música e quadros não pagam impostos, e a cultura é algo tão vão... Mas Lisboa não é só artistas de coração. Cada esquina que viramos evidencia a degradação do povo; aos poucos e poucos, a calçada tipicamente tuga é revestida a cartão e torna-se o lar de tantos lusos que não sobreviveram aos tempos de austeridade, ou que simplesmente se deixaram embalar pela melodia dissimulada do caminho que, para tantos, é o mais fácil. Pessoas que, outrora, foram crianças e tiveram (ou não) direito aos seus anos de inocência, e que, por azar ou fado, se deixaram encantar pelas vielas mais sombrias de Lisboa.


Sem comentários: