Aniversários
As abelhas não fazem anos.
Nenhuma viveu um ano
Para o poder fazer.
Com um dia de vida
Qualquer abelha vai
trabalhar.
Com dois já pode namorar
E com cinco casa e tem
filhos.
Com vinte dias de vida
Uma abelha está acabada:
É uma avelha.
Micróbios, como as amibas,
Vivem menos de um segundo
E nesse segundo também
Cabe uma vida inteira,
Cheia de tudo o que uma vida
tem.
Passa tudo tão depressa
Que não chegam a ter idade.
Não fazem anos, nem meses,
Nem dias, nem minutos, nem
segundos.
Fazem milésimos de segundo
- Uma eternidade.
As tartarugas fazem muitos
anos,
Mas devagarinho.
Sei de uma que faz hoje anos
E ainda vem a caminho.
Quando chega aos anos que
fez,
Os anos já lá não estão.
Às vezes já falta pouco
Para os fazer outra vez.
Qual era a pressa? O que é
isto?
Pergunta ela, espantada.
Os anos são um vento que nos
mata
Sem darmos por isso.
Não servem para mais nada.
Quanto mais os fazemos
Mais eles nos fazem a nós.
É preciso ver que depois
morremos
E não há mais nada a fazer.
Estamos feitos.
Os mortos desfazem anos.
No dia do seu aniversário
Faz anos que não fazem anos.
Fazem não anos,
Que são anos que não se
fazem.
E quantos mais não fazem
Mais se afastam da sua
antiga vida.
Mais não são vivos.
Os anões são tão pequeninos
Que não fazem anos.
Fazem aninhos.
Os gigantes são tão
grandalhões
Que não fazem anos.
Fazem anões.
Um segundo é uma hora
E uma hora é um segundo
No relógio alucinado da
paixão.
Não há tempo nesse tempo.
Quem ama nunca sabe
As horas que são.
E as horas também não sabem
Onde os amantes estão.
No relógio alucinado da
paixão
O tempo pára, retrocede,
avança.
Não está parado nem está em
movimento.
Está perdido mas não está
perdido.
Como tu, que amas, apenas
dança.
Os anos que fazemos
Também nos fazem a nós.
Os anos que fizemos nos
fizeram.
Os anos que faremos nos
farão.
É de anos que somos feitos,
De breve e misterioso tempo.
Em nós estão os anos que já
fomos.
Esses anos que fizemos,
somos nós,
Do cimo da cabeça até à
ponta dos pés.
Quanto tempo é?
Quantos anos são?
De que é feito o tempo que
nos faz?
Quanto tempo há?
Para onde vai o tempo que já
foi?
Onde está o tempo que virá?
Álvaro Magalhães, O brincador
Trabalho - aqui
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